Com 1.400 páginas, “A Anatomia da Melancolia” é o trabalho de uma vida do acadêmico do século XVII, Robert Burton. Porém, a sua cura para a depressão se resumia em seis palavras: “Não seja solitário, não seja ocioso”. Caso estivesse escrevendo a obra hoje, talvez acrescentasse: “E talvez tome um placebo”.
Placebos são tratamentos falsos que funcionam mesmo que não tenham um ingrediente ativo. Pílulas feitas de açúcar ou amido de milho já melhoraram o mal de Parkinson, ansiedade e dor. Agora, uma pesquisa sugere que placebos podem ser tão bons quanto medicamentos reais para o tratamento da depressão.Neste estudo mais recente, pessoas com, no mínimo, depressão moderada receberam apenas apoio e incentivo, ambos em conjunto com um antidepressivo ou com um placebo. Aqueles que receberam um antidepressivo ou placebo se sentiram melhor do que aqueles que receberam apenas o apoio. Porém, os placebos melhoraram a depressão quase tanto quanto a droga ativa e a diferença não foi significativa.
Uma revisão de bibliografia prévia descobriu que antidepressivos ofereciam um benefício mínimo quando comparados aos placebos – exceto em casos de depressão muito grave, nos quais o benefício era substancial. Um estudo de 2008 descobriu que os antidepressivos não eram mais eficazes mesmo na depressão grave; muitas das pessoas deprimidas eram apenas menos sensíveis a placebos.
Já uma teoria sugere que placebos funcionam porque as pessoas esperam que eles façam efeito. Na verdade, o placebo alivia a dor pois desencadeia endorfinas na mesma área do cérebro que é alvo de analgésicos reais.
Outra teoria cita os cães de Pavlov que, depois de um tempo, só precisavam ver as roupas brancas dos assistentes que traziam seus alimentos para começar a salivar. Esta teoria de condicionamento sugere que as pessoas só precisam de ver a pílula, creme ou seringa para ter o efeito desejado, mesmo sem a droga ativa.
Na medida certa
Mas, se os antidepressivos são apenas um pouco melhores do que um placebo, por que tantas pessoas os tomam? Dados sobre o placebo têm sido criticados, entre outros, pela análise seletiva de estudos – algo que pode estar errado.
Há, ainda, razões puramente práticas e culturais para que médicos e pacientes favoreçam a medicação que possa ajudar mesmo que muito pouco. A questão mais difícil é saber se os médicos devem prescrever antidepressivos, sendo eles apenas placebos. Por outro lado, alguns argumentam que a eficácia deste tipo de tratamento não deve ser posta em xeque ao contar aos pacientes que aqueles não seriam medicamentos convencionais.
A Associação Médica Norte-Americana vetou o uso de placebos enganosos, dizendo que eles minam a confiança, frustram a autonomia do paciente e retardam o tratamento adequado. No entanto, um estudo de 2010 mostrou que placebos funcionam mesmo se o paciente souber exatamente o que está tomando. Outros argumentam que as drogas reais são realmente placebos superiores, já que, em testes, quando as pessoas adivinham que as pílulas que estão tomando não são falsas, acreditam mais fortemente no efeito – criando, espontaneamente, o efeito placebo.
Uma alternativa para lidar com esta informação muitas vezes conflitante é aumentar a moral dos tratamentos não medicamentosos para a depressão. Psicoterapias, como a terapia cognitivo-comportamental, são tão boas quanto as drogas, exceto para as pessoas com depressão grave – mesmo que, mais uma vez, até a psicoterapia não seja significativamente melhor do que um placebo para a depressão.
Muitos tratamentos ativos são eficazes em parte devido ao efeito placebo. O efeito é forte em antidepressivos, fato que pode ter de ser divulgado aos pacientes para assegurar seu pleno consentimento. Se as pílulas de açúcar devem ser introduzidas à prática médica é uma questão completamente diferente, e que convida ao debate público.
FONTE: hypescience.com
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