segunda-feira, 24 de novembro de 2014

É possível saber o momento exato em que alguém pega no sono?

A respiração se torna mais intensa, espasmos musculares se espalham pelo corpo: existem alguns indícios que permitem deduzir se uma pessoa está em vias de pegar no sono. No entanto, em termos de pesquisa médica, estes sinais são insuficientes e dizem muito pouco sobre a questão, que sempre esteve envolta em subjetividades e imprecisões.

Em um artigo publicado semana passada no periódico PLOS Computational Biology, um grupo de pesquisadores do Massachusetts General Hospital descreveu novas técnicas que devem fornecer aos médicos informações bem mais consistentes sobre o tema.

A equipe desenvolveu um modelo estatístico e testes comportamentais para rastrear o processo dinâmico do adormecimento. Além do aspecto psicológico, foram levados em conta variações na atividade cerebral e outros sinais fisiológicos que indicam alterações no estado de vigília. A principal descoberta foi que não importa tanto quando alguém adormece, mas sim como o processo ocorre – o que pode variar de pessoa para pessoa.

“Em última análise, métodos como estes podem aprimorar muito a habilidade dos clínicos em diagnosticar distúrbios do sono e em medir mais precisamente os efeitos de drogas para dormir e outras medicações”, explicou o doutor Michael Prerau, principal autor do estudo, ao site EurekAlert.

Os pesquisadores substituíram o procedimento padrão que faz o monitoramento através de sons que perturbam o sono por um novo, centrado na respiração. Alguns voluntários, inclusive, mantiveram o mesmo ritmo respiratório, mesmo que de acordo com as classificações atuais já estivessem adormecidos, sugerindo que a questão é mais complexa do que se pensa.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Suicídio é a principal causa de mortes de meninas adolescentes no mundo


Ao longo dos anos, diversas discussões sobre informação sexual e reprodutiva e expansão de serviços de saúde para a juventude traziam o fato de que a mortalidade materna era a principal causa de morte de adolescentes com idade entre 15 a 19 anos. O argumento é convincente: meninas que engravidam ainda jovens correm maior risco de morrer durante a gravidez e o parto do que aquelas cujos corpos estão mais maduros.

Por muito tempo, educação sexual e serviços de saúde fracos ou inexistentes voltados para os jovens, bem como a perpetuação de expectativas sociais nocivas e normas de gênero que obrigam meninas a se casar e dar à luz muito novas, levaram a um elevado número de mortes maternas.

Recentemente, porém, este cenário mudou. De acordo com Suzanne Petroni, diretora sênior de gênero, população e desenvolvimento no Centro Internacional de Pesquisa sobre Mulheres (CIPM), em grande parte como resultado de melhorias na saúde materna em todo o mundo, a mortalidade materna – ainda que continue sendo uma das mais importantes – não é mais a principal causa de morte das adolescentes. Essa é a boa notícia.

A má notícia? Suicídio agora está no topo da lista.

O suicídio mata mais meninas com idades entre 15 e 19 anos do que qualquer outra coisa – mais do que gravidez, HIV/AIDS, acidentes automobilísticos e doenças diarreicas. Em todas as partes do mundo, exceto a África, o suicídio está entre as três principais causas de morte de meninas nessa faixa etária. A taxa de suicídio no Sul e Leste da Ásia é particularmente chocante; nesta região, é cinco vezes maior do que na Europa ou nas Américas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório em setembro chamado “Prevenção Suicídio: um imperativo global”. O relatório oferece insights sobre as taxas globais e causas de suicídio, ressaltando a necessidade de fazer da prevenção do suicídio uma prioridade maior na agenda da saúde global.

O texto ainda chama atenção para alguns dos principais fatores de risco para o suicídio, incluindo, entre outros, discriminação, trauma, abuso, conflito de relacionamento, isolamento social e barreiras ao acesso a cuidados de saúde. Os dados também sugerem que adolescentes que são social e economicamente marginalizados estão sob maiores riscos de suicídio. Embora o relatório da OMS não se concentre em como suicídio afeta adolescentes especificamente, sabemos que esses fatores de risco fazem parte das experiências vividas diariamente por meninas marginalizadas em todo o mundo.

A evidência limitada que temos sobre meninas adolescentes casadas, por exemplo, sugere que elas são mais propensas a sofrer violência pelo parceiro íntimo do aquelas que se casam mais tarde, e que muitas vezes enfrentam sentimentos de desesperança, desamparo e depressão.

Um estudo realizado pelo Centro Internacional de Pesquisa sobre Mulheres na Índia, por exemplo, descobriu que meninas que se casam antes dos 18 anos têm duas vezes mais probabilidade de relatar terem sido espancadas, esbofeteadas ou ameaçadas por seus maridos do que meninas que se casam mais tarde. Noivas crianças enfrentam o isolamento social, estão sujeitas a sexo precoce e indesejado e geralmente não têm as habilidades ou assistência necessárias para ter sucesso em um relacionamento.

A evidência demonstra também as ligações entre a gravidez indesejada e o suicídio. Particularmente em contextos onde as meninas têm pouco ou nenhum acesso à educação sexual, contracepção ou aborto seguro, algumas meninas grávidas podem sentir que o suicídio é a sua única opção.

À medida que níveis de escolaridade melhoram e a comunicação de massa se ​​expande em todo o mundo, as adolescentes têm cada vez mais contato com uma realidade diferente na qual poderiam viver, em que podem sonhar em se tornar pilotas, professoras, médicas e políticas. Porém, se as normas sociais e as realidades econômicas as forçarem a se tornar apenas esposas e mães submissas, o que acontece com a sua saúde mental?

Se uma menina tem a oportunidade de estudar ou trabalhar fora de casa, mas enfrenta a ameaça diária de ser atacada por ácidos ou balas, como ela pode eventualmente manter sua saúde mental?

É importante notar que as normas de gênero nocivas também contribuem para o suicídio entre os meninos. Em 2012, tantos meninos quanto meninas nessa faixa etária morreram como resultado de automutilação. Uma pesquisa da CIPM sobre masculinidade nos Balcãs, bem como dados do trabalho fantástico de organizações como Instituto Promundo e a MenEngage Alliance, demonstram que interpretações rigorosas do que “um homem deve fazer” também podem levar à automutilação por meninos e homens jovens.

O recente relatório da OMS oferece uma boa perspectiva sobre o significado do suicídio como um problema de saúde global, bem como algumas recomendações para a ação preventiva. Compreender o que motiva a automutilação é fundamental para determinar a melhor forma de agir. Petroni ressalta que é necessário, em particular, muito mais evidências sobre os males que as normas de gênero “tradicionais” representam para a saúde mental de meninas e meninos adolescentes. Em seguida, as comunidades de saúde e de desenvolvimento global devem continuar a dar prioridade à saúde sexual e reprodutiva, mas também devem abordar cada vez mais os fatores motivadores de suicídio, a fim de trazer melhorias significativas na saúde e na mortalidade de adolescentes. 


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estresse: conheça o lado positivo

Lidar bem com esse tipo de situação pode melhorar seu emprego e relacionamentos


Existem diversos graus de estresse e, como tudo na vida, as quantidades excessivas dessa sensação são nocivas para a nossa saúde. Porém, alguns estudos têm aparecido para tirar do estresse o estigma de vilão nessa história toda. Em 2012, um grupo de cientistas da University of Wisconsin-Madison (Estados Unidos) revisou os dados de uma pesquisa feita em 2006 pelaNational Health Interview Survey, e analisou os impactos do estresse na morte das pessoas. E chegaram à impressionante conclusão de que o estresse só causou um real impacto na saúde daqueles que acreditavam que ele era algo nocivo. Aqueles que não pensavam dessa forma não tiveram morte prematura decorrente dessa pressão. 

Para alguns especialistas, tudo depende do estágio em que o quadro está. "Na primeira fase o corpo produz apenas adrenalina que dá força, vigor e energia deixando o organismo de prontidão para enfrentar as tensões que surgirem ao longo do dia", explica a psicóloga Aretusa dos Passos Baechtold, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas e psicóloga do Instituto Psicológico de Controle do Stress (IPCS). "No entanto os benefícios do estresse só serão válidos se ele não durar mais de 24 horas por adaptação ao estressor ou adaptação ao mesmo", alerta.
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Outra questão é que muitos dos fatores causadores de tensão são internos, por isso mesmo encarar o estresse como algo positivo os reduz. "Quanto mais o indivíduo conseguir ver que dificuldades aparecem para todos e cada uma delas são oportunidades para aprender novas formas de superação, melhor ele lidará com o estresse", considera a psicóloga clínica Marisa de Abreu.

Mas está difícil encarar essa tensão toda como algo bom para você? Basta pensar que ela nada mais é do que um mecanismo de defesa do nosso corpo, que libera adrenalina para que as funções do nosso organismo se otimizem. Então os músculos se tencionam para o corpo poder fugir ou lutar, o coração e a respiração se aceleram para que mais oxigênio se espalhe pelo corpo e também para o cérebro, e até o suor está ai para que você se refresque.

Inclusive, o corpo se prepara para que depois os efeitos da adrenalina sejam atenuados. "O cortisol irá produzir uma série de reações metabólicas no organismo, que facilita sua adaptação ao impacto do estressor", ensina o psicoterapeuta José Roberto Leite, fundador e diretor do Centro de Estudos em Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pessoas mais felizes têm menor risco de desenvolver problemas no coração

Otimismo, boa disposição e felicidade podem diminuir a probabilidade de doenças coronárias em até 50%



Aproximadamente 17 milhões de pessoas morrem por ano vítimas de doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que esse número seja de 300 mil ao ano. Agora, cientistas da Universidade Harvard descobriram um excelente aliado na luta contra esse grave problema: o bem-estar psicológico.

A psicóloga Laura Kubzansky conduziu a primeira grande revisão sistemática que associou estados de humor com a saúde do coração. Ela e sua equipe analisaram mais de 200 estudos e constataram que características positivas como otimismo, boa disposição e felicidade podem ajudar a diminuir a probabilidade de desenvolver patologias coronárias em até 50%, além de retardar a progressão em quem já tem a doença, independentemente de idade, condição socioeconômica, tabagismo ou peso.

Os pesquisadores acreditam que o menor risco está associado ao estilo de vida. Os mais satisfeitos costumavam ter comportamentos mais saudáveis, como praticar exercícios, manter uma dieta equilibrada e dormir o suficiente. Além disso, suas funções biológicas funcionavam melhor – por exemplo, pressão arterial equilibrada, perfil lipídico saudável (gordura no sangue) e peso corporal adequado.

“Os resultados têm importantes implicações no manejo do tratamento. Podem ajudar a desenvolver estratégias de prevenção e intervenção mais eficazes”, diz a autora. O estudo foi publicado na Psychological Bulletin.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Antidepressivos podem ter o mesmo efeito de placebo


Com 1.400 páginas, “A Anatomia da Melancolia” é o trabalho de uma vida do acadêmico do século XVII, Robert Burton. Porém, a sua cura para a depressão se resumia em seis palavras: “Não seja solitário, não seja ocioso”. Caso estivesse escrevendo a obra hoje, talvez acrescentasse: “E talvez tome um placebo”.
Placebos são tratamentos falsos que funcionam mesmo que não tenham um ingrediente ativo. Pílulas feitas de açúcar ou amido de milho já melhoraram o mal de Parkinson, ansiedade e dor. Agora, uma pesquisa sugere que placebos podem ser tão bons quanto medicamentos reais para o tratamento da depressão.Neste estudo mais recente, pessoas com, no mínimo, depressão moderada receberam apenas apoio e incentivo, ambos em conjunto com um antidepressivo ou com um placebo. Aqueles que receberam um antidepressivo ou placebo se sentiram melhor do que aqueles que receberam apenas o apoio. Porém, os placebos melhoraram a depressão quase tanto quanto a droga ativa e a diferença não foi significativa.
Uma revisão de bibliografia prévia descobriu que antidepressivos ofereciam um benefício mínimo quando comparados aos placebos – exceto em casos de depressão muito grave, nos quais o benefício era substancial. Um estudo de 2008 descobriu que os antidepressivos não eram mais eficazes mesmo na depressão grave; muitas das pessoas deprimidas eram apenas menos sensíveis a placebos.
Já uma teoria sugere que placebos funcionam porque as pessoas esperam que eles façam efeito. Na verdade, o placebo alivia a dor pois desencadeia endorfinas na mesma área do cérebro que é alvo de analgésicos reais.
Outra teoria cita os cães de Pavlov que, depois de um tempo, só precisavam ver as roupas brancas dos assistentes que traziam seus alimentos para começar a salivar. Esta teoria de condicionamento sugere que as pessoas só precisam de ver a pílula, creme ou seringa para ter o efeito desejado, mesmo sem a droga ativa.

Na medida certa

Mas, se os antidepressivos são apenas um pouco melhores do que um placebo, por que tantas pessoas os tomam? Dados sobre o placebo têm sido criticados, entre outros, pela análise seletiva de estudos – algo que pode estar errado.
Há, ainda, razões puramente práticas e culturais para que médicos e pacientes favoreçam a medicação que possa ajudar mesmo que muito pouco. A questão mais difícil é saber se os médicos devem prescrever antidepressivos, sendo eles apenas placebos. Por outro lado, alguns argumentam que a eficácia deste tipo de tratamento não deve ser posta em xeque ao contar aos pacientes que aqueles não seriam medicamentos convencionais.
A Associação Médica Norte-Americana vetou o uso de placebos enganosos, dizendo que eles minam a confiança, frustram a autonomia do paciente e retardam o tratamento adequado. No entanto, um estudo de 2010 mostrou que placebos funcionam mesmo se o paciente souber exatamente o que está tomando. Outros argumentam que as drogas reais são realmente placebos superiores, já que, em testes, quando as pessoas adivinham que as pílulas que estão tomando não são falsas, acreditam mais fortemente no efeito – criando, espontaneamente, o efeito placebo.
Uma alternativa para lidar com esta informação muitas vezes conflitante é aumentar a moral dos tratamentos não medicamentosos para a depressão. Psicoterapias, como a terapia cognitivo-comportamental, são tão boas quanto as drogas, exceto para as pessoas com depressão grave – mesmo que, mais uma vez, até a psicoterapia não seja significativamente melhor do que um placebo para a depressão.
Muitos tratamentos ativos são eficazes em parte devido ao efeito placebo. O efeito é forte em antidepressivos, fato que pode ter de ser divulgado aos pacientes para assegurar seu pleno consentimento. Se as pílulas de açúcar devem ser introduzidas à prática médica é uma questão completamente diferente, e que convida ao debate público. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Temos dezenas de emoções universais, aponta estudo


Peça a uma mulher de uma aldeia remota no Butão para agir como se ela estivesse envergonhada, divertida ou intimidada, e as chances de uma adolescente nos Estados Unidos interpretar precisamente essas emoções é bem próxima de 100%. Isso porque os seres humanos têm dezenas de expressões universais para transparecer suas emoções e, de acordo com uma nova pesquisa, essas expressões são reconhecíveis por várias culturas.
O único detalhe é que essa gama de emoções é maior do que pensavámos.

Nossas emoções universais têm um núcleo comum

Durante décadas, os cientistas têm sustentado que há seis expressões emocionais humanas básicas, e que todas elas são reveladas pelo rosto. Seriam: felicidade, tristeza, nojo, medo, raiva e surpresa.
Mas cerca de cinco anos atrás, Daniel Cordaro, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley e da Universidade de Yale (ambas nos Estados Unidos), começou a se perguntar se havia mais. Para descobrir a resposta à essa inquietação, ele passou horas observando as pessoas de todo o mundo em cafés, assistindo vídeos de crianças no YouTube e desembrulhando presentes de aniversário com grandes sorrisos em seus rostos. E notou que, apesar das diferenças culturais, muitas expressões que antes eram julgadas como mais “complicadas” pareciam ser semelhantes entre as diversas culturas.
Para ver se estava certo, Cordaro e seus colegas mostraram a pessoas de quatro continentes uma descrição de uma linha de uma história (que os pesquisadores traduziram em várias línguas nativas), tais como: “seu amigo acabou de te contar uma história muito engraçada, e você está se divertindo muito com isso”, ou “seus amigos te pegaram cantando em voz alta a sua música favorita, e você se sente envergonhado”. E então pediram aos participantes para descreverem esses estados emocionais usando palavras.
Quando os pesquisadores compartilharam essas encenações emocionais com pessoas de culturas estrangeiras, esses espectadores puderam relacioná-las com 30 expressões faciais e vocais com maior precisão do que se tivessem simplesmente imaginado. Curiosamente, expressões de simpatia, desejo e timidez não pareciam se traduzir através das culturas.
A equipe também comparou pessoas na China, Japão, Coréia, Índia e Estados Unidos quando estas emoções foram reencenadas, e, assim, codificaram 5.942 de suas expressões faciais. Isso significou gravar meticulosamente as posições de 25.000 músculos faciais diferentes, segundo Cordaro.

A descoberta de padrões

Assim, a equipe descobriu alguns padrões incríveis. Segundo Cordaro, há muitas semelhanças na forma como as pessoas produzem determinadas expressões. Algumas são incrivelmente parecidas em todas as culturas, ao passo que outras, como o “uau” de reação a alguma coisa bonita, não é universal.
A maioria das pessoas inicialmente estudadas nesta pesquisa pertencia a culturas marcadas por uma forte presença da TV, smartphones e outras tecnologias. Ou seja, as expressões emocionais examinadas podem não ser verdadeiramente universais.
Então Cordaro e seus colegas viajaram para uma aldeia remota no Butão que jamais havia sido visitada por estrangeiros, e pediram que os moradores relacionassem tons de voz com uma história que estava sendo descrita. Para 15 das 17 expressões vocais, os moradores puderam escolher a situação correspondente muito melhor do que se apenas tentassem adivinhar, sem a ajuda do recurso de voz.
Esses resultados sugerem que uma grande parte do repertório emocional humano é universal e que as expressões emocionais vão muito além do que os seis tipos básicos descritos anteriormente por pesquisadores. As descobertas, contudo, não devem subestimar o papel da cultura, completa Cordaro. Para ele, “cada emoção resume-se a uma história”. E a “cultura nos ensina as histórias em que usamos essas emoções”, explica.

Traduções

Enquanto traduziam conceitos emocionais básicos para moradores butaneses, os pesquisadores encontraram “chogshay”, uma palavra butanesa que não tinha equivalente em inglês e que mais ou menos se traduz como um contentamento fundamental que é independente do estado emocional atual de uma pessoa.
Por exemplo: alguém poderia estar momentaneamente com raiva ou se sentindo terrivelmente mal, mas o seu sentido subjacente de bem-estar poderia ainda estar intacto.
Claro que essa noção de “chogshay” era completamente estranha para Cordaro, que foi usada para definir bem-estar em termos do que ele tinha, como o que ele estava sentindo ou se esforçando para sentir. Mas, através de um processo de reconhecimento da universalidade de muitas emoções humanas, e depois de completar uma rodada de meditação budista na Tailândia, Cordaro experimentou o tal estado “chogshay”.
“Eu me senti completamente vazio”, disse Cordaro. “Foi o momento mais bonito em toda a minha vida”.

Diferentes pontos de acesso

O que isso tem a ver com a universalidade das emoções? O raciocínio de Cordaro é o seguinte: esse estado de contentamento provavelmente está disponível para as pessoas de qualquer lugar do mundo, o tempo todo. Mas dependendo da cultura em que uma pessoa esteja inserida, ela pode acabar não conhecendo essa emoção, porque foi criada em um ambiente que “expulsa” essa consciência.
Sendo assim, podemos ter muitas emoções de caráter emocional, mas se quer temos acesso a elas. Porque, culturalmente, muitas são “abafadas”.
Ele também levanta a hipótese de que as pessoas podem chegar a este estado de muitas maneiras diferentes, seja por autorreflexão, meditação ou atingindo um “fluxo” em atividades altamente envolventes.