Quando, num
casal, um se sente mais poderoso ou mais fraco do que o outro é sinal de que o
relacionamento não vai bem. Quem ama não domina e tampouco deve deixar-se
submeter. No amor, o que pode haver é uma dependência mútua, de lado a lado,
sem sofrimento. E confiança. Carência e poder só geram sofrimento e angústia,
nunca o prazer e a alegria típicos do amor.
em todas as relações há quem
precise mais — ou menos — do outro, mas algumas vezes essa dinâmica
torna-se doentia: aquele que precisa menos assume o poder; o mais apegado
sofre, pois experimenta uma espécie de vício, é como se não conseguisse viver
sem o ser amado. “Eu não existo sem você”, diz ao parceiro ou parceira. Isso
não é amor, é dependência.
Mesmo sabendo
que não é amada, essa pessoa não consegue se separar ou prescindir da outra.
Narcisistas gostam de se relacionar com gente assim, que depende totalmente
deles. Isso faz bem à sua vaidade. “Sem mim, ele/ela não existe”, pensam.
Muitos casais se relacionam dessa maneira. Acham que vivem uma história de
amor, mas o que os une é apenas a dependência.
Num bom relacionamento há um
equilíbrio de poder. Há uma dependência mútua, mas sem sofrimento, ambos têm
vida, amigos e interesses próprios — e confiam um no outro. Gostam de ficar
juntos e também de ficar sós. Quando se encontram não há cobranças, mas
conversas, troca de interesses, cumplicidade e desejo.
Um amor em
que há domínio, medo de ser abandonado e insegurança é um amor doente. Se um
dos dois vive mostrando ao outro que deve agradecer por estarem juntos e que,
se terminarem, não sentirá nada, pois tem uma fila de pretendentes, é claro que
isso provoca ansiedade no mais fraco. Com medo de ser abandonado, ele se
submete e faz de tudo para não perder seu amor. Vive atormentado e nunca diz “não”
ou expressa o que sente. Nesse caso,
está claro que o amor só existe de um lado, que não há equilíbrio e que aquele
que detém mais poder abusa da pessoa que diz amar.
Às vezes acontece de o mais
fraco tentar reverter a situação de dependência, mudar a dinâmica, e então os
papéis se invertem — aquele que abusava começa a se sentir inseguro. Ou seja,
não adianta querer se tornar indiferente, se afastar ou a subjugar o outro. O
que é preciso é tentar mudar essa situação.
Como? Primeiro, vendo a realidade.
Não é porque amamos alguém que esse alguém vai nos amar. Precisamos tentar ver
o outro como ele é, com suas virtudes e defeitos, não idealizando, não lhe
dando mais valor do que tem. Também temos de nos ver como somos, valorizar o
que temos de bom — e lembrar que, como nós, o outro vai sofrer, sim, se houver
um rompimento. Igualmente importante é não deixar de dizer o que sentimos, dar
opiniões, não ter medo de discordar. Quem se anula pelo outro fica
desinteressante.
Para
restabelecer o equilíbrio, é preciso parar de implorar por amor, manter a
dignidade, confiar em si.
Vale a pena também ficar sozinho algumas vezes,
procurar amigos, começar uma atividade nova, um hobby, ginástica, teatro,
aprender uma língua, enfim, tirar um pouco da energia que é depositada na
relação. Em geral, isso basta para que o a amor fique mais equilibrado e o
interesse volte.
O amor deve
dar prazer e alegria, se só dá sofrimento e angústia, não é amor, é dependência
e carência.
Agora, se por fim chegarmos à conclusão de que o amor é unilateral,
de que só um ama pelos dois, então devemos ter a coragem de ficar sós. O ideal
romântico diz que somos apenas uma metade que precisa ser completada e
acreditamos nessa fantasia, mas ela não corresponde à realidade. Estar
acompanhado nem sempre é melhor que estar só. Ficar só é possível e pode ser
muito bom.
Leniza
Castello Branco – Psicóloga e Analista Junguiana em São Paulo
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