A despersonalização é um transtorno que transforma a realidade de quem a enfrenta no dia a dia. Para Sarah, uma atriz que sofre com o problema, os sentimentos funcionam apenas em teoria. Acredita-se que esse efeito seja um mecanismo de defesa contra traumas, ansiedade ou desencadeado pelo uso de entorpecentes, de acordo com informações da rede britânica BBC.
Sem emoções
“Relacionamentos perdem sua qualidade essencial”, explicou Sarah, que preferiu manter seu sobrenome em sigilo. “Você sabe que ama sua família, mas sabe disso apenas em termos acadêmicos, em vez de sentir do jeito normal.”
Estima-se que uma em cada 100 pessoas seja afetada pelo distúrbio, que pode acarretar surtos. No caso de Sarah, foram três episódios, que chegaram a durar anos. O primeiro aconteceu quando ela ainda estava na universidade sob efeito do stress. “Era repentino. As coisas pareciam alienígenas ou ameaçadoras”, disse ela à BBC.
Durante os episódios crônicos, Sarah também tinha ataques de pânico. “Lugares familiares, como seu próprio apartamento, ficam parecendo sets de filmagem, e as suas coisas se parecem objetos cenográficos”, explicou, ressaltando a característica da condição.
Mundo modificado
Além da sensação de estar dentro de um filme, a o transtorno transforma a experiência da pessoa em algo irreal, modificando a própria percepção do corpo, como se o mundo estivesse achatado. Foi dessa forma que Sarah sentiu o segundo surto. “Eu estava lendo, segurando o livro, e de repente minhas mãos pareciam uma foto de um par de mãos. Eu sentia uma espécie de separação entre o mundo físico e minha percepção sobre ele.”
De acordo com a médica Elaine Hunter, responsável pelo único centro de tratamento para o transtorno no Reino Unido, o problema pode se desenvolver durante a adolescência. Uma de suas pacientes começou a sentir os primeiros sinais quando ainda tinha 13 anos. A adolescente não conseguia reconhecer os próprios pais e tinha muita dificuldade para sair de casa e ataques de pânico diários.
Pouco conhecido
A despersonalização, apesar de ser reconhecida como transtorno há décadas, ainda não é amplamente conhecida pela comunidade médica. Segundo os especialistas, a condição tem incidência próxima ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e à esquizofrenia. “Passei por até vinte especialistas, entre enfermeiras psiquiátricas, clínicos gerais, terapeutas e orientadores psicológicos, que não sabiam do que eu estava falando”, confessou Sarah.
Tratamento
Como tratamento, são indicadas sessões de terapia cognitivo-comportamental e medicamentos para os casos mais graves. A terapia funcionou para a gerente de vendas Sarah Ashley. “Olhava para o espelho e era como se eu estivesse vendo uma outra pessoa. Eu não conseguia comer, dormir. Agora, continuo enfrentando episódios, mas consigo lidar com eles rapidamente.”
Fonte: Veja.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário