segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O que nos faz mais felizes: tempo ou dinheiro?

Se pudesse optar entre um aumento de salário e uma redução na jornada de trabalho, o que você escolheria? Sua felicidade depende da resposta a essa pergunta






O sucesso está associado a ter mais de tudo. Mais coisas, mais reconhecimento, um salário maior. E isso faz sentido: já falamos sobre quanto o dinheiro, quando bem utilizado, pode nos ajudar a ter felicidade. Mas, e o tempo? O estereótipo da pessoa bem-sucedida normalmente está ligado ao do trabalhador frenético que mal tem tempo para dedicar às coisas de que gosta, às suas amizades ou à família. Se o objetivo nesta vida é ser feliz, será que conseguiremos isso enchendo nossos bolsos de dinheiro, ou será preciso dispor de tempo livre para dedicarmos a nós mesmos e às pessoas que amamos?

Um estudo publicado recentemente pela revista Social Psychological and Personality Science perguntou a quase 4.500 pessoas se, para obter felicidade, elas valorizam mais o dinheiro ou o tempo. Do total de entrevistados, 64% declararam preferir dinheiro. A pesquisa também detectou, no entanto, que aqueles que atribuíam uma importância maior à disponibilidade de tempo se mostravam mais felizes.

A ideia do trabalho nasceu de uma experiência pessoal de um de seus realizadores, Hal E. Hershfield. Esse professor recebeu um convite para participar de um seminário em um estado que não é o mesmo onde vive. Naquele momento, ele tinha em casa uma menina com apenas 3 meses de idade. O dinheiro que lhe pagariam serviria para ajudar nos cuidados com o bebê, mas, ao mesmo tempo, ele perderia um fim de semana inteiro em que poderia desfrutar junto a ela dessa etapa tão delicada dos recém-nascidos. Nesse caso, o que o deixaria mais feliz: o tempo ou o dinheiro?

Os resultados de sua pesquisa são os mencionados acima: “Se tivéssemos duas pessoas iguais em tudo o mais, aquela que considerasse que o tempo é mais importante do que o dinheiro seria mais feliz do que a que escolhesse apenas o dinheiro”, explicam Hershfield e Cassie Mogilner Holmes, membros da Universidade da Califórnia em Los Angeles, em artigo publicado pelo The New York Times. Logicamente, naquela ocasião o professor Hershfield optou por ficar em casa e aproveitar os dias com a menina em vez de ganhar o dinheiro de sua ida ao seminário. Alguns entrevistados também acabaram coincidindo, em sua trajetória, com os resultados da pesquisa: cerca de 25% dos que haviam escolhido o dinheiro mudaram de ideia e escolheram o tempo um ano depois da primeira entrevista.

Questão de idade

Este não é o único estudo sobre a questão. No começo deste ano, uma pesquisa da Universidade de British Columbia, em Vancouver (Canadá), concluiu que a postura de valorizar mais o tempo do que o dinheiro está associada a níveis mais altos de felicidade, sobretudo quando são necessárias longas jornadas de trabalho para se obter esse dinheiro. Essa pesquisa constatou também que, conforme a idade aumenta, o tempo passa a ter mais importância entre as prioridades das pessoas. Há uma lógica nisso: cada segundo que passa se torna um bem mais escasso. Como dizia o poeta José Manuel Caballero Bonald: “Somos o tempo que nos resta”.

Os mais jovens parecem ter tirado sua lição do poeta: valorizar o tempo tem se mostrado uma tendência na chamada geração Millenium (os nascidos entre 1980 e 1995): segundo um estudo de 2013 da consultoria Price Waterhouse Coopers, as pessoas dessa faixa de idade preferem dispor de mais tempo livre e poder compatibilizar sua vida pessoal com o trabalho a ter um salário mais alto. Os milleniuns vêem o trabalho apenas como um meio para ter estabilidade e bem-estar, mas não como o único meio. Segundo esse estudo, 21% das mulheres e 15% dos homens estariam dispostos a abrir mão de parte de seu salário para ter mais flexibilidade de tempo.

O psicólogo Dan Gilbert, professor da Universidade de Harvard e autor do best-seller O que nos faz felizes? (Campus-Elsevier), explicou em visita recente à Espanha que, a partir de um determinado limite, a quantia de dinheiro ganha não proporciona uma felicidade a mais. Esse limite são 600.000 euros (2,1 milhões de reais). Por isso, comparativamente, os milionários não desfrutam de mais felicidade quanto mais dinheiro acumulem (nada indica que Amancio Ortega ou Bill Gates tenham tanta felicidade quanto têm de dinheiro).

As quatro chaves para a felicidade são gratuitas

“Uma vez atendias as nossas necessidades básicas, que são fundamentais para o bem-estar, um aumento da riqueza pode gerar alguma felicidade, mas apenas de curto prazo”, explica Silvia Álava, psicóloga do Centro de Psicologia Álvaro Reyes. “Depois disso o que acontece é aquilo que chamamos de adaptação hedonista: nós nos habituamos com as coisas que temos, nos comparamos com os outros e queremos mais”.

Isso talvez tenha acontecido com você: adquiriu um carro mais potente, uma casa um pouco maior, mas, depois de um primeiro momento de satisfação, não daria para dizer que se sente mais feliz do que antes. “ O que pode gerar um aumento duradouro do bem-estar é investir em coisas que nos façam crescer como pessoas ou que melhorem o nosso relacionamento com os outros”, observa a psicóloga. Por exemplo, um curso de violão ou para saber fazer cupcakes, participar de excursões ou atividades esportivas são atividades que podem fazer mais pelo nosso estado de ânimo do que os mencionados carrão e mansão.

Dessa forma, as quatro atividades cotidianas que aportam mais felicidade, como explica Gilbert, não custam nenhum tostão: fazer sexo, praticar exercícios, ouvir música e conversar. Elas não custam nada, mas exigem tempo. “Investir em experiências é melhor do que investir em coisas materiais”, afirma o psicólogo.

Na psicologia, é dado como fato consumado que ter relações variadas e saudáveis com as pessoas, com uma vida social intensa e salutar (para além das “curtidas” no Facebook), é uma das coisas que mais contribuem para o nosso bem-estar, e, para isso, o tempo é imprescindível. “Não podemos limitar nossa felicidade aos grandes acontecimentos da vida, temos de aprender a usufruir os pequenos momentos: um café da manhã com um colega de trabalho ou contar uma história para os nossos filhos na hora de dormir”, conclui Ávala. Com pouco se pode fazer muito. E, para isso, o que falta é mais tempo e não tanto o dinheiro. Embora o ideal seja, logicamente, a combinação de ambos: ter um ofício que nos traga muitos milhões por mês trabalhando apenas algumas horas por dia. Não existem muitos deles por aí.


Fonte: El País

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