sábado, 26 de outubro de 2013

A adulteração das nossas crianças


 
Um dos grandes cuidados que precisamos ter com nossas crianças é dar-lhes a possibilidade de transitar no espaço infantil com segurança, respeito e com o direito de serem crianças. A palavra criança vem do Latim creare, “produzir, erguer”, relacionado a crescere, “crescer, aumentar”, do Indo-Europeu ker-, “crescer”.
 
Ou seja, a possibilidade de crescerem em um ambiente no qual acredita-se que o mundo é “bom e belo”. Onde reine a fantasia, bonecas de pano, toquinhos de madeira que viram foguetes, aviões, flores e carruagens. Que elas possam se confundir com suas mães e chorarem ao se separar, pois elas só tem 2 anos de idade. Que elas possam ter o direito de brincar, brincar e brincar. Que elas possam subir em árvores, empinar pipas, não usarem maquiagem e nem pintar as unhas.
 
Que meninos e meninas possam ser cavaleiros montados em seus cavalos alados indo passear no mundo encantado de um reino “Tão.. tão.. distante”.
 
Que nossas crianças possam ter o direito de não saber o que seja um “Xbox, tablets, iphones”  e possam ter o dever de pisar na terra descalço olhar para o céu e adivinhar qual é a forma daquela nuvem.
 
Nossas crianças estão sendo obrigadas a crescerem muito rápido!
 
O mundo se tornou uma vitrine decorada por luzes, cores e efeitos especiais que nos confundem, nos deixa na dúvida quanto ao tamanho real do nosso manequim, se é dia ou noite, se o ritual da espera do Natal inicia-se em Outubro ou Dezembro.
 
Nossas crianças não percebem a entrada da Primavera nem vivenciam o seu significado. Nossas crianças não re-conhecem os ADULTOS, pois se igualam a eles, e nessa ciranda todos se misturam e se ADULTERAM.
 
É muito comum encontrarmos em nossas rodas de amigos e família, uma criança que ganhou poder ou subiu de posto na sua hierarquia familiar, quebrado assim, a ordem natural do fluxo do amor, onde Pai funciona como filho, e filho, funciona como Pai.
 
Geralmente, quando isso acontece, esse núcleo familiar torna-se uma verdadeira “Torre de Babel”, onde ninguém fala a mesma língua. Ninguém se escuta. Fica difícil perceber e manter a ordem, pois as fronteiras estão “diluídas”, ou melhor, “permeáveis”. Não há uma filtragem... todo mundo junto e misturado!
 
E assim, nossas crianças vão se tornando menos originais e mais cópias. Cópias essas adulteradas pela superficialidade da sociedade fast food, que não respeita o tempo que uma lagarta leva para sair do casulo, e logo estão abrindo esse mesmo casulo justificando-se que possivelmente aquela “lagarta-borboleta não iria conseguir sair com vida, pois estava muito “apertado”! Então, criamos seres que não podem se sentirem apertados, seres que ficam pela metade: Metade lagarta, metade borboleta; Metade homem, metade menino. Metade monstro, metade humano. Seres desintegrados, desconectados... Adultos Adulterados!!
 
Artigo elaborado pela Psicoterapeuta Myrna Nascimento.