Qual é o seu verdadeiro sentido para o Natal?
Qual é o seu verdadeiro sentido de caminhar nessa vida?
Qual é a verdade do seu Ser?
Qual é o "espírito de vida…" que você coloca nas coisas da sua vida?
Para refletirmos sobre isso trouxe um texto não tão novo, mas muito atual e que gosto muito, de uma das minhas escritoras favoritas, Martha Medeiros.
Um Natal repleto de significado real e terno para todos nós!! Mais amor, mais simplicidade e mais entrega!!
O Espírito da Coisa(Martha Medeiros)
VOCÊ SEMPRE PEGA O ESPÍRITO DA COISA? Geralmente o
espírito da coisa é algo que fica subentendido, só as almas atentas conseguem
captá-lo. A verdade é que, em um mundo cada vez mais pragmático, é difícil
pegar o espírito da coisa, seja que coisa for esta.
O que
dizer então do espírito do Natal? Antes ele entrava no ar assim que dezembro
iniciava. O espírito deste mês, para quem foi criança em outros tempos, era de
pura magia. O Natal, que demorava tanto para chegar, estava batendo à porta.
“Quantos dias faltam, mãe?” “Agora falta pouco, querida”. “Quanto?” “Uns 20
dias”. “Tudo isso?!!”
Mas a
gente sabia que era pouco se comparado à longa espera de um ano inteiro. Em
maio, junho, julho, o Natal ainda estava a perder de vista. Natal era o
arremate do calendário, era a compensação por tanto estudo e provas na escola,
era o prêmio por termos nos comportado bem, era a hora de colocar uma roupa
bonita e ter algum desejo atendido, era hora de comer umas delícias diferentes,
de rezar, de acreditar em todos os sonhos. O céu ficava mais azul, as estrelas
se multiplicavam e nunca, nunca chovia em dezembro. Então finalmente chegava o
dia 24. A empregada era liberada logo depois do almoço, o pai voltava mais cedo
pra casa e nenhum moleque reclamava de ir pro chuveiro, até gostava. Já de
banho tomado, era hora de esperá-lo. Ele. O verdadeiro deus de toda criança,
Papai Noel.
Hoje
mal entra dezembro — e com ele, trovoadas — e os shoppings lotam, o trânsito
entope, os filhos pedem coisas caríssimas e ganham antes mesmo da noite feliz.
Comprar, comprar, comprar. Você, meio sem grana, faz o que pode. Os outros,
meio sem nada, você faz que não vê. Mas eles estão entre nós: crianças pedindo
um lápis de presente, pedindo colchão de presente, sonhando com o primeiro
iogurte de suas vidas. E a gente voando de um lado para o outro, sem tempo pra
eles.
Isso
tudo foi até ontem, quando dezembro acabou. Ao menos este dezembro insensato,
ansioso, consumista, ateu, que dura 24 dias febris, onde todos correm, todos
estão atrasados, todos têm compromissos inadiáveis. Uma amiga me escreveu no
auge do estresse: “Pensar que o próximo será só daqui a um ano é a melhor parte
da história”.
Antes
de começar a contagem regressiva para o próximo, temos hoje. Temos este hiato,
o dia 25. Um feriado, um domingo, uma trégua. As lojas estão todas, todinhas,
fechadas. Sobrou alguma coisa da ceia para beliscar na geladeira. Você vai
sentir sede de suco natural, de água gelada. Vai colocar música pra tocar, vai
vestir uma camiseta limpa. Você não tem nada pra fazer, nenhum motivo pra tirar
o carro da garagem, nenhuma razão para procurar vaga para estacionar. Hoje você
vai andar a pé, no máximo de bicicleta. Vai falar mais pausadamente. Não vai
ligar a TV, prometa. Nem sei por que abriu o jornal. Hoje é dia de caminhar
devagar, de chinelo ou pés descalços. Dia de olhar bem fundo nos olhos do
porteiro que está trabalhando, do motorista de ônibus que está trabalhando, e
desejar a eles um feliz Natal pra valer. Com sentimento. Um sentimento que não
seja medo nem angústia.
Paz.
É hoje
o dia que nos restou pra isso. Um dia para sairmos de casa apenas para ir até
alguém que nada possui e ofertar um pedaço de bolo, uma barra de chocolate, um
travesseiro, um sabonete, uma bola, qualquer coisa que signifique uma
verdadeira extravagância diante de tanta miséria. Terminou a histeria coletiva,
terminou a festa, terminou a semana. É hoje, antes que tudo reinicie, que você
poderá encontrar o verdadeiro espírito da coisa. Não deixe que ele escape.
Fonte do texto: http://semeaduradeluz.blogspot.com.br/2008/11/o-esprito-da-coisamartha-medeiros.html