terça-feira, 19 de novembro de 2013

RELA - ACIONAR


Atualmente venho refletindo muito sobre as relações. E não acredito que isso seja um comportamento tão original da minha parte, pois o relacionar está aí para vermos, vivermos e sentirmos.  

Percebo que atualmente esse comportamento que deveria ser uma condição intrísecamente humana, simples e natural tem se tornado um tema tão fervoroso e importante nos consultórios de psicologia, nos veículos de comunicação, nos livros de auto-ajuda.

Para quê estamos precisando de tanta ajuda para nos relacionarmos?

O que acontece nessa tal RELA – AÇÃO que vem incomodando tantas pessoas? Não era para ser o contrário? Por quê um ato de encontro ganha tanto espaço para des – entendimentos e sofrimentos?

Tenho percebido o quanto passamos pela vida sem nos dar conta que cada possibilidade de rela – ação é uma oportunidade de vínculo e um ato em potencial de AMOR.

Buscando o significado de vínculo encontrei atar, ligar a, apertar. Será que é isso?

Ficamos “apertados” para relacionar e depois por estar relacionando?

As relações nos aperta , nos aproxima do outro num movimento para “relar”, para apararmos nossas arestas, nossos corpos, nossas crenças, nossos valores,  nossas expectativas, nossos limites.

Relacionar nos traz para a realidade, nos tira da ilusão, nos faz mais humanos. Mas, ainda há aqueles que insistem em retornar para o imaginário, e dali viver um mundo paralelo. Onde acham que falou, que ouviu, que cuidou, que percebeu, que viveu uma história de amor. Acham! E daí a vida passa e continuam achando, imaginando.

Assunto polêmico, não?! Posso estar com essas questões também construindo uma “realidade paralela”.

Lembrei-me agora do Mito da Caverna de Platão. Muitas vezes, em nossos relacionamentos preferimos ficar dentro da caverna, recebendo apenas um feixe de luz que traz uma projeção do mundo externo. Mas, continuamos de costas, imóveis, acorrentados, olhando somente para a parede do fundo da caverna. E ali construímos nossas crenças.

Mas, se em algum momento meu companheiro (a) resolve se libertar das correntes, olhar para a fresta que permite a entrada do feixe de luz, escalar o muro com todas as dificuldades que esse caminho possa representar, sair da caverna  e encontrar o “mundo externo” e retornar para anunciar a “boa nova” para o que ficou dentro da caverna, isso pode representar um momento de crise, conflito, des – entendimentos, ocasionando uma exclusão,  sofrimento , mágoas, etc.

Ou seja, muitas vezes estamos preparados para viver uma rela – ação que nos mantenha olhando somente para o fundo da caverna, ficando no escuro, vendo somente as sombras e acreditando que o mundo lá fora se resume nisso. Vivemos entediados, mas na ilusão do conforto e da segurança de que tudo está no controle. Me aperto, mas não me permito expandir. Me vínculo, mas não me libero para RELA – ACIONAR.

RELA - ACIONAR é a minha possibilidade de sair da caverna, do fundo dela, de parar de enxergar somente as projeções e de viver na sombra. É poder olhar para a luz, para o mundo real e me expandir enquanto ser humano, que aprende  e caminha ora no seu próprio ritmo , ora no ritmo do Outro , e assim, bailando desenvolvo o ritmo, o passo, o compasso a melodia.


 Artigo elaborado pela Psicoterapeuta de Família e Casal Myrna Nascimento

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Cresça e divirta-se!

Viajei bastante para acompanhar algumas pré-estreias do filme Divã, baseado no meu livro homônimo. Delícia de tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade do trabalho realizado, e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante. Além disso, ainda consegue me provocar. A personagem Mercedes (vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise e leva pro consultório muitos questionamentos sobre sua vida. Até que, passado um tempo, finalmente relaxa e se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas irrealizações. Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: Alta? Logo agora que estou me divertindo?.

Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino: um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.
 
Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.

Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.

Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?

Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.
Fonte: Martha Medeiros